cartas

Por: estaprontoquandofazplim

mar 09 2010

Categoria: Sem categoria

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Estou recebendo cartas muito interessantes e resolvi publicá-las aqui sem identificar quem as escrever. Quem quiser me escrever e relatar alguma experiência eu adoraria incluir no blog , sem citar nomes, o importante aqui é compartilhar, meu email é robertamartinho@gmail.com.

Segue…

“oi roberta, tudo bem?
espero que sim!

eu fiquei com vontade de te escrever pois, como te disse, a sua iniciativa de relatar sua experiência com ansiolítico me comoveu.
eu admiro muito sua postura, de verdade. eu aprendi que quem está disposto a compartilhar sua experiencia, ajuda muito mais do que qualquer comprimido, faz com que a gente perceba que não estamos sozinhos.

é impressionante ver como está cada vez mais popular o diagnóstico de doenças psiquicas e o tratamento por medicação…
eu queria compartilhar a minha experiência com você, pois o rivotril esteve presente em um momento crucial da minha história…
eu não cheguei a me viciar no remédio, mas o que eu acho impressionante, hoje, é como ele chegou até mim e o que aconteceu depois que eu tomei o remédio.

eu fui diagnosticada com um quadro depressivo há mais ou menos um ano, mas acredito que é algo que veio se desenvolvendo desde meados de 2007, e somente foi comprovado quando finalmente fui parar em um consultório, no começo de 2009.

eu não tive um acontecimento traumático que pudesse ser apontado como o desencadeador desta situação, mas o fato é que comecei a desenvolver um comportamento depressivo e meio que me viciei nele.

em uma das minhas piores crises, eu já não dormia, não conseguia ficar sozinha e, ao mesmo tempo, todas as minhas relações sociais eram permeadas por um sentimento de falha total em todos os aspectos, portanto ficar acompanhada não ajudava muito, era seguido de uma ressaca moral destruidora… eu não conseguia ter gosto com nada.

no trabalho, o meu chefe veio conversar comigo, pela manhã, e conseguiu arrancar de mim que eu não estava legal, que não estava me sentindo bem. ele saiu da sala e voltou com uma cartela de rivotril, me dizendo para colocar um embaixo da lingua, que provavelmente eu conseguiria terminar meu dia de trabalho. deu a cartela inteira para mim e desejou que eu me sentisse melhor. me senti melhor no ato. o rivotril caiu dos céus em minha mãos, sem prescrição médica nem nada. fácil assim. todo mundo me dizia que rivotril fazia a pessoa ficar sonolenta, dormir por horas, e comigo foi como uma injeção de tranquilidade. a vida se tornou suportável e eu não tinha mais queixas a fazer. não senti um pingo de sono. engraçado lembrar hoje, porque apesar de não ter claro quais foram as coisas que eu senti eu tenho a sensação que naquele momento eu assistia a vida da poltrona de um cinema – eu não era atuante na cena, então não havia porque me sentil mal.

bom, depois desta cartela eu fui parar em um consultório, quase sem conseguir me expressar, para iniciar meu tratamento, que por escolha do meu médico e graças a deus, foi optado por ser sem medicamentos. na época, as duas semanas que se seguiram eu estava em uma condição deplorável, não conseguia seguir com nenhum tipo de conversa com ninguém. tudo o que eu fazia era assistir tv.

eu ouvi de muitos amigos e pessoas queridas que estavam preocupadas comigo que eu deveria procurar alguma medicação, que talvez isso fosse algo físico mesmo e que precisaria de remédios para balancear o que eu sentia. acontece que ao longo do tempo deprimida eu parei de trabalhar em várias coisas que eu costumava fazer e não havia como eu pagar por um tratamento que fosse através de medicação.

decidi procurar algum tratamento público, para ver se conseguia alguma consulta de graça (com ou sem medicação, essa altura eu não me importava mais) e acabei em uma terapia mista (algumas sessões particulares e algumas sessões em grupo com outras pessoas que também passam por este problema, e sem medicação) desde então tenho feito sessões quase todos os dias. nos primeiros quinze dias, de domingo a domingo, e agora cerca de 3 a 4 vezes por semana. fez um mês ontem. e as coisas estão melhorando, bem devagar, mas estão. tenho recuperado minha fé e consigo lidar com as coisas de um modo melhor. tenho a consiência de que posso acordar mal e que isso sim é uma realidade, e não aquela vida cheia de flores que vemos na tv.
eu acho que deus me guiou para esse caminho, não sei o que teria acontecido se desde o começo eu tivesse cedido aos remédios ou as drogas.

eu não quero ser uma deprimida pro resto da minha vida, como era o diagnóstico. eu não quero ter que tomar remédios para conseguir lidar com as coisas, com as pessoas. e eu não quero me sentir sozinha, nem no prazer, nem na dor.

eu sei hoje que eu só posso sentir prazer e me sentir realizada com as escolhas que eu faço sentindo tudo que eu tenho que sentir: as coisas boas e as ruins.
e saber disso não é o suficiente para resolver o problema de uma hora pra outra, mas é um começo. eu passei um longo tempo não sabendo lidar com o que eu sentia e agora eu preciso ter paciência para conseguir retomar as coisas. como eu disse antes, eu tenho retomado minha fé de que eu posso viver uma vida boa, com coisas legais e com tudo que eu sonhei. sem medicamentos e sem drogas. e com força.
e ler o que você postou em seu blog e sentir que você está feliz e que conseguiu passar por tudo isso faz com que eu tenha fé.
e eu tenho certeza que não sou só eu, que há mais gente que vai se fortalecer com histórias como a sua.
e eu queria te agradecer pela iniciativa…
te desejo tudo de bom mesmo. “

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